Contato, de Carl Sagan: considerações sobre o filme e o livro
Atenção:
este texto contém alguns (poucos) detalhes da história que alguns podem
considerar como cruciais. Considere-se, portanto, avisado(a).
Quando em Romanos afirma-se que a natureza manifesta a glória de Deus, ele não estava se referindo à revelação especial de Deus em Cristo Jesus concernente à nossa salvação, aceita pela fé, mas à "revelação comum", à percepção humana do divino, ao entendimento de que, ao contemplarmos o universo, em sua beleza, complexidade e design, enxergamos nele a ação externa de um Ser Superior em sua concepção. Diante da ideia de que viemos do acaso, segundo o apóstolo, a natureza atestaria justamente o contrário, de uma forma que pode ser igualmente percebida, embora não exaustivamente entendida, por todas as pessoas. A própria afirmação do apóstolo é tema de debates ainda hoje, mas de forma geral, e fora da compreensão bíblica, varia muito o entendimento das pessoas com relação à este "Ser Superior" que criou o universo, em termos de quem é e como age, o que pode ser percebido nas várias tendências religiosas do mundo, ou mesmo através de algumas histórias de um gênero literário de minha preferência, a ficção científica. Ao meu ver, o livro Contato, de Carl Sagan, se enquadra nisso.
Em primeiro lugar, uma explicação: sei quem foi Carl Sagan, mas não conheço muito sobre seus trabalhos ou sua forma de pensar. Tenho outro dos seus livros para tirar da minha "fila de livros futuros", mas ainda não o fiz. Logo, limito-me aqui apenas à discutir algumas impressões (pessoais e subjetivas) que tive com esta obra, um dos seus trabalhos mais famosos e que foi adaptado para o cinema em 1997, com Jodie Foster no papel principal, por meio do qual tive o primeiro contato com a trama: uma mensagem para a Terra é transmitida de uma localidade próxima à estrela Vega, separada do nosso sistema cerca de 26 anos-luz, obviamente enviada por uma inteligência extraterrestre, fato este que causa um impacto no mundo inteiro.
Particularmente, gosto de assistir a este filme de tempos em tempos (nerd é assim mesmo) pela trama em si, que considero instigante, bem desenvolvida e trabalhada, com personagens bem construídos e interpretados por bons atores. Entretanto, ao ver o filme sempre fico com a mesma impressão de que, no final das contas, a história estaria defendendo especificamente o ponto de vista religioso: a personagem principal Dra. Ellie Arroway, a dedicada cientista e primeira a detectar a transmissão da mensagem, acaba como a única pessoa que vivenciou uma experiência especial, real e pessoal, e que não pode comprovar (apesar de algumas evidências), de contato com seres não humanos, mais desenvolvidos, tornando-se portanto alvo da crença de uns e da descrença de outros. Ela, que se utilizava do princípio da Navalha de Occam para questionar a crença em Deus, acaba sendo ela mesmo questionada: não teria ela inventado tudo isso? De forma semelhante, esta é a situação do testemunho bíblico em relação à revelação inspirada por Deus aos Seus servos, e cuja veracidade também é colocada em dúvida. Será que era este o objetivo de Carl Sagan, ou seja, de criar uma história com este tipo de mensagem, de defesa da fé em si?
Recorri à releitura do livro para responder à esta pergunta, e já adianto: acho-o bem melhor que o filme. Nele, o debate ciência versus religião é mais aprofundado, diante de todas as manifestações religiosas ao redor do mundo devido ao recebimento da mensagem dos veganos, com especial foco no "fundamentalismo cristão". Neste aspecto, o personagem Rev. Palmer Joss seria o "religioso racional", alguém que passara por uma experiência considerada como sobrenatural mas que no enredo representa o bom exemplo de liderança espiritual em comparação com seus companheiros de púlpito, pregadores pouco razoáveis. Mesmo assim, penso que no livro o foco central não é defender a experiência religiosa ou a fé, mas discutir quem, nos dias de hoje, se relacionaria melhor com o numinoso, o sublime, o transcendente: os religiosos ou os cientistas? Com a leitura do livro, percebo como Carl Sagan parece defender a possibilidade do universo ter sido construído, e contendo um sentido, mas pensa que se alguma mensagem fora deixada pelo criador, ou criadores, ela será verdadeiramente desvendada e corretamente compreendida e divulgada pela ciência, e não pela religião, que deixa de ser relevante neste sentido. As palavras do Rev. Palmer Joss no final do livro sintetizam bem este pensamento, quando ele recita a passagem da escada de Jacó à Dra. Arroway, e diz: "sua história já havia sido prevista... O relato do Gênesis era correto para o tempo de Jacó. Da mesma forma, seu testemunho é correto para este tempo, para o nosso tempo".
Diante disso, o livro mostra para mim uma tendência que vejo cada vez mais presente, mas que passa despercebida: se a religião significa o esforço humano de restabelecer a ligação com o divino, e se hoje a "racionalidade científica" é a ponte que nos liga com o transcendente (seja um "divino interior" ou não) então houve apenas uma troca de religião. Pode-se argumentar que a ciência nos oferece evidências, enquanto que a religião é apenas um conjunto de histórias inventadas e manipuladas, contudo, a fé cristã não elimina de forma alguma o estudo e emprego de ciências como Arqueologia, História, Linguística, entre outras, e por isso também se vale de evidências para atestar a veracidade daquilo que afirma. E se os ditos "religiosos" são acusados de serem presos à uma forma de pensamento, não são todos no final das contas influenciados por alguma filosofia, alguma concepção de vida? Se não for a cristã, será outra.
Considero que a leitura do livro Contato, muito bem escrito aliás, teve em mim um efeito positivo, despertando alguns questionamentos interessantes, e inspirando-me a estudar mais a Bíblia, para saber dar melhor razão da minha fé (1 Pe. 3:15) e defendê-la (Jd. 1:3) com mais qualidade (o que não significa que as pessoas passariam a concordar com ela). Tanto o livro quanto o filme tratam do recebimento de uma mensagem especial, e neste sentido, a mensagem inspirada por Deus aos antigos santos, profetas e apóstolos, cujo tema central é a revelação do Senhor Jesus Cristo, foi registrada para que pudesse ser acessível a todas as pessoas, ao longo da História, pelo ato da leitura ou exposição pública do texto, abrangendo assim ambos aqueles mais ou menos instruídos. Claro que a mensagem foi, é, e continuará sendo deturpada por alguns, e nem todas as passagens bíblicas são entendidas da mesma forma entre os cristãos, mas mesmo assim, a Vontade de Deus na elaboração e uso das Escrituras continua valendo: a proclamação de Cristo Jesus, e a regeneração que temos só por meio Dele.
Contudo, é necessário observar que acreditar nisso tudo sempre foi e sempre será simplesmente um ato de fé. Eu, por exemplo, não posso provar a ninguém que Cristo ressuscitou; eu nem estava lá para ter testemunhado isso. Além do que, se pudesse provar, não seria necessário ter fé. Mesmo assim, acredito pela fé que isso aconteceu conforme relatado na Bíblia, e acredito pela fé que minha vida depende Dele, o meu Senhor e Redentor Ressurreto. Minha fé é racional, mas não relacionada necessariamente à capacidade de ver, o que, aliás, bate com a própria definição da carta aos Hebreus: "a fe é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem" (Hb. 11:1). Logo, não temo o rótulo de "fundamentalista" por concordar com proposições bíblicas como "o justo viverá pela fé" (Gl. 3:15) e "a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus" (Rm. 10:17), e conclamo igualmente a todos os crentes que também não o temam.
Contato, o livro de Carl Sagan, pode ser adquirido na Livraria Cultura por meio deste link. O filme já se encontra disponível no formato Blu-ray para venda, e em DVD apenas para locação.
Quando em Romanos afirma-se que a natureza manifesta a glória de Deus, ele não estava se referindo à revelação especial de Deus em Cristo Jesus concernente à nossa salvação, aceita pela fé, mas à "revelação comum", à percepção humana do divino, ao entendimento de que, ao contemplarmos o universo, em sua beleza, complexidade e design, enxergamos nele a ação externa de um Ser Superior em sua concepção. Diante da ideia de que viemos do acaso, segundo o apóstolo, a natureza atestaria justamente o contrário, de uma forma que pode ser igualmente percebida, embora não exaustivamente entendida, por todas as pessoas. A própria afirmação do apóstolo é tema de debates ainda hoje, mas de forma geral, e fora da compreensão bíblica, varia muito o entendimento das pessoas com relação à este "Ser Superior" que criou o universo, em termos de quem é e como age, o que pode ser percebido nas várias tendências religiosas do mundo, ou mesmo através de algumas histórias de um gênero literário de minha preferência, a ficção científica. Ao meu ver, o livro Contato, de Carl Sagan, se enquadra nisso.
Em primeiro lugar, uma explicação: sei quem foi Carl Sagan, mas não conheço muito sobre seus trabalhos ou sua forma de pensar. Tenho outro dos seus livros para tirar da minha "fila de livros futuros", mas ainda não o fiz. Logo, limito-me aqui apenas à discutir algumas impressões (pessoais e subjetivas) que tive com esta obra, um dos seus trabalhos mais famosos e que foi adaptado para o cinema em 1997, com Jodie Foster no papel principal, por meio do qual tive o primeiro contato com a trama: uma mensagem para a Terra é transmitida de uma localidade próxima à estrela Vega, separada do nosso sistema cerca de 26 anos-luz, obviamente enviada por uma inteligência extraterrestre, fato este que causa um impacto no mundo inteiro.
Particularmente, gosto de assistir a este filme de tempos em tempos (nerd é assim mesmo) pela trama em si, que considero instigante, bem desenvolvida e trabalhada, com personagens bem construídos e interpretados por bons atores. Entretanto, ao ver o filme sempre fico com a mesma impressão de que, no final das contas, a história estaria defendendo especificamente o ponto de vista religioso: a personagem principal Dra. Ellie Arroway, a dedicada cientista e primeira a detectar a transmissão da mensagem, acaba como a única pessoa que vivenciou uma experiência especial, real e pessoal, e que não pode comprovar (apesar de algumas evidências), de contato com seres não humanos, mais desenvolvidos, tornando-se portanto alvo da crença de uns e da descrença de outros. Ela, que se utilizava do princípio da Navalha de Occam para questionar a crença em Deus, acaba sendo ela mesmo questionada: não teria ela inventado tudo isso? De forma semelhante, esta é a situação do testemunho bíblico em relação à revelação inspirada por Deus aos Seus servos, e cuja veracidade também é colocada em dúvida. Será que era este o objetivo de Carl Sagan, ou seja, de criar uma história com este tipo de mensagem, de defesa da fé em si?
Recorri à releitura do livro para responder à esta pergunta, e já adianto: acho-o bem melhor que o filme. Nele, o debate ciência versus religião é mais aprofundado, diante de todas as manifestações religiosas ao redor do mundo devido ao recebimento da mensagem dos veganos, com especial foco no "fundamentalismo cristão". Neste aspecto, o personagem Rev. Palmer Joss seria o "religioso racional", alguém que passara por uma experiência considerada como sobrenatural mas que no enredo representa o bom exemplo de liderança espiritual em comparação com seus companheiros de púlpito, pregadores pouco razoáveis. Mesmo assim, penso que no livro o foco central não é defender a experiência religiosa ou a fé, mas discutir quem, nos dias de hoje, se relacionaria melhor com o numinoso, o sublime, o transcendente: os religiosos ou os cientistas? Com a leitura do livro, percebo como Carl Sagan parece defender a possibilidade do universo ter sido construído, e contendo um sentido, mas pensa que se alguma mensagem fora deixada pelo criador, ou criadores, ela será verdadeiramente desvendada e corretamente compreendida e divulgada pela ciência, e não pela religião, que deixa de ser relevante neste sentido. As palavras do Rev. Palmer Joss no final do livro sintetizam bem este pensamento, quando ele recita a passagem da escada de Jacó à Dra. Arroway, e diz: "sua história já havia sido prevista... O relato do Gênesis era correto para o tempo de Jacó. Da mesma forma, seu testemunho é correto para este tempo, para o nosso tempo".
Diante disso, o livro mostra para mim uma tendência que vejo cada vez mais presente, mas que passa despercebida: se a religião significa o esforço humano de restabelecer a ligação com o divino, e se hoje a "racionalidade científica" é a ponte que nos liga com o transcendente (seja um "divino interior" ou não) então houve apenas uma troca de religião. Pode-se argumentar que a ciência nos oferece evidências, enquanto que a religião é apenas um conjunto de histórias inventadas e manipuladas, contudo, a fé cristã não elimina de forma alguma o estudo e emprego de ciências como Arqueologia, História, Linguística, entre outras, e por isso também se vale de evidências para atestar a veracidade daquilo que afirma. E se os ditos "religiosos" são acusados de serem presos à uma forma de pensamento, não são todos no final das contas influenciados por alguma filosofia, alguma concepção de vida? Se não for a cristã, será outra.
Considero que a leitura do livro Contato, muito bem escrito aliás, teve em mim um efeito positivo, despertando alguns questionamentos interessantes, e inspirando-me a estudar mais a Bíblia, para saber dar melhor razão da minha fé (1 Pe. 3:15) e defendê-la (Jd. 1:3) com mais qualidade (o que não significa que as pessoas passariam a concordar com ela). Tanto o livro quanto o filme tratam do recebimento de uma mensagem especial, e neste sentido, a mensagem inspirada por Deus aos antigos santos, profetas e apóstolos, cujo tema central é a revelação do Senhor Jesus Cristo, foi registrada para que pudesse ser acessível a todas as pessoas, ao longo da História, pelo ato da leitura ou exposição pública do texto, abrangendo assim ambos aqueles mais ou menos instruídos. Claro que a mensagem foi, é, e continuará sendo deturpada por alguns, e nem todas as passagens bíblicas são entendidas da mesma forma entre os cristãos, mas mesmo assim, a Vontade de Deus na elaboração e uso das Escrituras continua valendo: a proclamação de Cristo Jesus, e a regeneração que temos só por meio Dele.
Contudo, é necessário observar que acreditar nisso tudo sempre foi e sempre será simplesmente um ato de fé. Eu, por exemplo, não posso provar a ninguém que Cristo ressuscitou; eu nem estava lá para ter testemunhado isso. Além do que, se pudesse provar, não seria necessário ter fé. Mesmo assim, acredito pela fé que isso aconteceu conforme relatado na Bíblia, e acredito pela fé que minha vida depende Dele, o meu Senhor e Redentor Ressurreto. Minha fé é racional, mas não relacionada necessariamente à capacidade de ver, o que, aliás, bate com a própria definição da carta aos Hebreus: "a fe é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem" (Hb. 11:1). Logo, não temo o rótulo de "fundamentalista" por concordar com proposições bíblicas como "o justo viverá pela fé" (Gl. 3:15) e "a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus" (Rm. 10:17), e conclamo igualmente a todos os crentes que também não o temam.
Contato, o livro de Carl Sagan, pode ser adquirido na Livraria Cultura por meio deste link. O filme já se encontra disponível no formato Blu-ray para venda, e em DVD apenas para locação.
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